Cleyton Bitencourt é pai solo de dois filhos, Alex, de 4 anos, e Ariel, de 2. Homem trans e influenciador digital, ele decidiu viver as duas gestações de forma planejada e no próprio corpo. A experiência, segundo conta, foi marcada por desafios, falta de referências e preconceitos, mas também por conquistas e a realização de um sonho antigo.
“Gestar foi, sem dúvida, a melhor escolha da minha vida. Hoje, olho para meus filhos e entendo que, por mais difícil que tenha sido, minhas gestações abriram portas para outros homens trans”, afirmou em entrevista à Crescer.
A decisão de ser pai está ligada à própria história. Cleyton relata que teve uma infância marcada por dificuldades, mudanças constantes e ausência de afeto. “Minha infância foi tudo o que eu não quero repetir com meus filhos. Com meu pai, nunca tive um lugar seguro para chamar de lar”, disse.
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Durante a adolescência, iniciou de forma espontânea o processo de transição, adaptando o modo de se vestir e buscando ser tratado no masculino. “Conforme fui me conhecendo mais e tendo mais autonomia sobre minhas escolhas, eu fui modificando minhas roupas e me questionando sobre coisas que me faziam bem, como ser tratado no masculino e ser reconhecido como homem. Foi um período solitário. Por muito tempo, vivi retraído, com medo de ser quem eu realmente era”, contou.
Ao sair de casa, ganhou coragem para assumir sua identidade. Com o tempo, conquistou o respeito da família: “Hoje, vejo que tudo foi um processo. Entendo que a transição não é só minha, mas de todos. Posso dizer que, agora, tenho o respeito de todos e me sinto seguro e tranquilo quanto a minha identidade de gênero”.
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Sobre as gestações, Cleyton explica que desejava vivenciar essa experiência, mas enfrentou dificuldades por não encontrar informações direcionadas a homens trans. “Muitas vezes, eu me sentia perdido por não ter referências de homens grávidos. Tive que me encaixar no universo da gestação cis feminina para conseguir informações, e isso me abalava”, revelou.
Após a separação, os filhos ficaram sob sua responsabilidade, e ele passou a enfrentar também o questionamento social sobre sua paternidade. “Sempre ouço: ‘Os filhos, no fim, sempre ficam com a mãe’. É como se a paternidade trans fosse impossível de entender”, desabafou.
Atualmente, Cleyton conta com o apoio da mãe e da irmã e mantém uma rotina organizada com os filhos. No Dia dos Pais, celebra com orgulho: “Nunca tive pai presente. Então esse dia ganhou um novo significado com a chegada deles”. Nas redes sociais, compartilha sua história com o objetivo de ser referência para outros homens trans que desejam gestar. “Meu recado é: não desistam do seu sonho. Não tenham medo do que a sociedade pode falar. Eu fui com medo mesmo”, finalizou.
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