O estudante Heberth Vinícius Santana, de 21 anos, vive uma trajetória marcada por superação e resistência. Morador do Recife, ele teve a vida transformada na madrugada de 16 de dezembro de 2023, quando sofreu um grave acidente de carro durante uma tentativa de assalto em São Paulo, dias após fazer o Enem. O jovem, que sonhava cursar medicina, ficou paraplégico após sofrer traumatismo craniano e lesões na coluna.
“Eu era o paciente mais grave da UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. Tanto é que minha mãe só estava na UTI [como acompanhante] porque as pessoas pensaram que eu iria falecer, daí permitiram que ela ficasse lá”, contou em entrevista ao g1.
O carro em que Heberth estava com o tio capotou várias vezes enquanto tentavam fugir dos criminosos. Ele ficou preso às ferragens e precisou ser resgatado pelos bombeiros. No hospital, os médicos chegaram a desacreditar da recuperação. Ainda em fevereiro de 2024, após cirurgias na cabeça e na coluna, o estudante recebeu alta.
Foi nesse período que descobriu o resultado do vestibular. “Descobri que eu tinha passado na prova quando acordei do coma. A minha mãe falou que ela estava meio apreensiva em me contar que tinha passado, porque eu tinha acabado de descobrir que eu estava paraplégico. As pessoas me falaram que eu estava paraplégico e logo em seguida ela falou que eu fui aprovado na faculdade de medicina”, relatou.
Aprovado para o curso da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Heberth não conseguiu iniciar as aulas em abril de 2024. A instituição recebeu a documentação médica que comprovava sua reabilitação e, de forma excepcional, manteve sua vaga trancada. Foram um ano e nove meses de fisioterapia e cirurgias até o início das aulas, em setembro de 2025.
De volta ao campus, o estudante começou a expor nas redes sociais os obstáculos de acessibilidade que enfrenta no dia a dia. Em vídeos, mostrou banheiros sem adaptação, rampas em más condições e elevadores quebrados no Centro de Ciências da Saúde (CCS), onde estuda.
As publicações chamaram atenção e, segundo ele, algumas medidas já começaram a ser tomadas. No entanto, o elevador que dá acesso à sala de prática de anatomia continua quebrado: “Espero muito que eles cumpram com o prazo. Daí eu conseguirei ter acesso às aulas de prática de anatomia. A minha turma abraçou a causa, e daí não estão ocorrendo aulas práticas de anatomia para minha turma. Estamos tendo aulas teóricas, mas não temos aulas práticas”.
Enquanto o conserto não é realizado, a universidade sugeriu que ele utilizasse o elevador de serviço, o mesmo usado para transportar peças anatômicas conservadas em formol, algo que Heberth e os colegas recusaram.
O grupo também demonstrou apoio total à luta do colega. “Talvez as pessoas ficassem chateadas por não ter aula prática e ficassem com raiva de mim, por impossibilitar a aula prática. Mas eu me deparei com o extremo oposto. A galera abraçou muito bem a causa da lutar pelo direito à acessibilidade e em relação a cobrar a quem precisa ser cobrado para que providencie a acessibilidade”, contou.
Hoje, Heberth segue o sonho de se tornar médico e, ao mesmo tempo, de transformar a universidade em um espaço mais inclusivo.
Não deixe de curtir nossa página no Facebook, no Twitter e também no Instagram para mais notícias do 111Next.
